Julgamento divino contra os cananeus: Justiça ou Genocídio?

Uma resposta sobre o "genocídio divino" e o massacre cananeu.
Massacre dos Cananeus

Sobre o julgamento divino contra os povos canaanitas

    Uma das passagens mais dramáticas da Bíblia e que constantemente levanta objeções que visam comprometer o caráter divino assim como a credibilidade moral do cristianismo trata-se da narrativa do "massacre dos cananeus". Evidentemente sendo uma das passagens mais sangrentas das páginas bíblicas, tais relatos para muitos céticos e críticos propagandistas demonstram a conduta patentemente imoral do Deus do Antigo Testamento. Richard Dawkins por exemplo, com base em narrativas como esta, afirma que Deus não é apenas uma ilusão, mas uma “ilusão perniciosa”:

O deus do Antigo Testamento é provavelmente o personagem mais desagradável de toda a ficção: ciumento e orgulhoso; um maníaco por controle, miserável e injusto; um abusador vingativo, eugenista sedento por sangue, misógino, homofóbico, racista, infanticida, genocida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista e caprichosamente malévolo.
Richard Dawkins DAWKINS, R. The God Delusion (p.51). Boston: Houghton Mifflin Harcourt, 2008.

    É estranhamente irônico que um ateu possa transbordar tão facilmente com tal indignação moral já que o ateísmo por sua vez, nega a existência de qualquer moralidade objetiva. Tais alegações ou reações no entanto, precisam de respostas não apenas para ateus endurecidos como Dawkins (que provavelmente não ficarão satisfeitos com qualquer que seja a explicação), mas porque os ateus não são os únicos preocupados com o "problema cananeu". Para Dawkins, esse tipo de narrativa é um dos principais motivos para se envergonhar da Bíblia, ou pelo menos do Antigo Testamento. E para muitos, o que ouvem sobre esses atos de violência é o suficiente para impedi-los de considerar a Bíblia ou o Cristianismo como opções possíveis na busca por orientação espiritual, afinal, quão aceitável é uma fé que contém em sua base, a crença em um Deus que supostamente teria comandado atos genocidas?

    Porém, tais objeções de que a Bíblia tolera o genocídio ou que o Deus da bíblia seria um maníaco genocida, cruel e sanguinário se baseiam em pressuposições equivocadas não apenas sobre a própria moralidade dada aos humanos em contraste com o caráter divino mas também sobre toda a narrativa apresentada. Em Levítico 18 e em outros lugares, por exemplo, a Bíblia revela que Deus puniu os cananeus por males graves específicos. Além disso, esta não foi a destruição total de uma raça, pois Deus não ordenou que todos os cananeus fossem mortos, mas apenas aqueles que viviam dentro de limites geográficos específicos (Js 1:4). As tribos cananéias (especialmente os hititas) ultrapassaram em muito as fronteiras que Israel foi ordenado a conquistar. E como exposto nas páginas bíblicas, Ele também puniu Israel quando cometeu os mesmos pecados. Em ambos os casos jamais se tratou de um genocídio, mas, pena capital.

Quem eram os cananeus?

    O termo geral, «cananeus», era usado para se referir às antigas sete nações distintas que ocupavam o território da palestina: Heteus, gírgaseus, amorreus, cananeus, perezeus, heveus e os jebuseus. Além disso, haviam diversas tribos cananéias que viviam nas fronteiras da Palestina, em seu lado norte, a saber, os arqueus, os sinitas, os arvaditas, os zemaritas e os hematitas (Gên. 10:17,18). Israel não entrou em contato com essas tribos e nem todos os cananeus eram maus, mas quando você aprende mais sobre as práticas corruptas de sua cultura, é difícil não classificá-los como os "vilões" da vez. Levítico e Deuteronômio contêm listas detalhadas e sinistras, incluindo: a adoração de ídolos demoníacos, atos sexuais tabus como incesto, pedofilia, pederastia e zoofilia e até mesmo o sacrifício de crianças aos deuses cananeus. Evidências arqueológicas indicam que as crianças queimadas até a morte às vezes chegavam aos milhares. A descrição de seus pecados em Levítico 18 nos informa que "até a terra ficou contaminada e vomitou os seus moradores" (v. 25). Eles estavam totalmente perdidos em sua imoralidade, contaminados em todo tipo de abominações. (vv. 21, 24, 26). 

    Mais de 400 anos foram concedidos para que se arrependessem de sua impiedade e abandonassem suas práticas e tiveram toda oportunidade para se converterem de suas iniquidades. De acordo com Gênesis 15:16, Deus disse a Abraão que em 400 anos os seus descendentes voltariam para herdar aquela terra, mas que a iniquidade do povo ainda não se havia completado. Essa afirmação profética indica que Deus não destruiria o povo daquela terra, inclusive os que moravam em Jericó, até que seus pecados os fizessem merecedores de uma completa destruição como juízo de Deus. Os cananeus se deleitaram em aviltamentos como esses por séculos, enquanto Deus pacientemente adiava o julgamento. Aqui não havia nenhum “um purificador étnico vingativo e sanguinário ... um genocida ... megalomaníaco, sadomasoquista, valentão caprichosamente malévolo, maníaco por controle, mesquinho, injusto e implacável.” como Dawkins alega. Em vez disso, aqui vemos um Deus disposto a poupar a cidade cananéia de Sodoma por causa de apenas dez justos ( Gênesis 18:32 ), um Deus que demorou a se irar e sempre rápido em perdoar (observe Nínive, por exemplo).

    Mas não há limite? Na verdade, o que diríamos de um Deus que permaneceu perpetuamente em silêncio diante de tamanha maldade? Não perguntaríamos: Onde estava Deus? Não questionaríamos Sua bondade, Seu poder ou mesmo Sua existência se Ele não vencesse esse mal? No entanto, quando Deus finalmente age, somos rápidos em encontrar defeitos no "purificador étnico, sanguinário e vingativo".

Justiça, conquista e suas consequências

    Os israelitas não foram motivados pelo mero ato de matar um grupo de pessoas rivais as suas crenças. A conquista não foi uma limpeza étnica ou genocídio. Deus não se importava com a cor da pele ou a nacionalidade. Os estrangeiros compartilhavam os mesmos direitos legais na comunidade que os judeus ( Lev. 19:34 , Lev. 24:22 , Deut. 10: 18-19 ). Estrangeiros como Naomi e Rahab eram bem-vindos em suas fileiras. Deus se preocupou apenas com o pecado. 

    A conquista foi um exercício de pena de morte em escala nacional, justiça por centenas de anos de idolatria e devassidão impensável. De fato, Deus trouxe a mesma sentença de destruição sobre Seu próprio povo quando eles pecaram da mesma maneira. A conquista tinha mais a finalidade de acabar com as práticas nocivas dos cananeus do que acabar com suas vidas. O problema não era o povo, mas suas práticas. Em The Lost World of the Israelite Conquest, John Walton sugere que o objetivo da invasão de Israel foi mais sobre o desmantelamento da comunidade da qual os cananeus faziam parte do que o fim de suas vidas. Pode ser comparado ao que os Aliados se propuseram a fazer durante a Segunda Guerra Mundial. Eles estavam em uma missão para acabar com o regime nazista, mas isso não significava que eles tinham que matar todos os alemães.

    Muitos hesitam, porém, com a observação de que não-combatentes - mulheres e crianças - estavam entre as vítimas. Em parte, isso se deve ao fato de que eles presumem que a conquista foi principalmente uma ação militar de combate. Não era.  A essa altura tratava-se principalmente de uma sentença de julgamento, com a punição executada pelo exército de Israel contra todo o povo cananeu, e como aponta Greg Koukl em "The Canaanites: Genocide or Judgment?":

Deus não lida com indivíduos, mas com as nações como um todo quando grandes projetos estão em jogo. Visto que o pecado cananeu era regular e sistemático - toda a população adulta participava do sistema idólatra - Deus julgou a nação inteira. As mulheres não eram menos culpadas do que os homens e, em muitos casos, eram as principais instigadoras. Quando uma comunidade peca, há consequências para todos os membros da população, até mesmo as crianças. Quando Israel fez o mal e Deus trouxe fome e seca, adultos e crianças sofreram da mesma forma. Cada ato de julgamento corporativo sofre danos colaterais. Sem dúvida, os cananeus adultos tiveram o que mereciam. Em relação às crianças, pessoalmente me consolo com o fato de que, na minha opinião, aqueles que morrem antes da idade de responsabilidade são conduzidos imediatamente para o céu.

    Mas há outra razão pela qual Deus parece justificado em tirar qualquer vida - mesmo uma vida “inocente” - sempre que Ele quiser.

Destruição e morte de inocentes

    Na cultura do antigo oriente a maioria das pessoas vivia em áreas remotas, não nas cidades. As cidades eram fortificações militares para soldados e oficiais militares. Não é onde as mulheres e crianças, agricultores e trabalhadores viviam. Portanto, em termos de guerra, não se tratava de civis e por vezes, até mesmo a expressão "destruir todos na cidade" era uma hipérbole comum, uma forma de retórica. Não se tratava literalmente de tirar todas as vidas, mas de garantir que a guerra fosse ganha, o inimigo derrotado e a tarefa cumprida. Em outras palavras, destruir tudo significava vencer de forma decisiva, não destruir tudo literalmente, inclusive inocentes. Tratava-se mais de purificar do que purgar. 

    Tais guerras do AT portanto, são eventos factuais porém singulares no plano da salvação e não um modelo para os conflitos atuais. Naquele contexto Deus permitiu que os autores expressassem livremente suas emoções o que não significa que ele esteja aprovando suas ações ou validando tais expressões para lidar com toda e qualquer situação. A justa destruição dos cananeus não é uma licença para que os cristãos matem os ímpios. Não vivemos mais em uma teocracia e, como Paulo nos diz em 2 Coríntios 10:4-5, não lutamos com “as armas do mundo”, mas “destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus” (NVI). Em outras palavras, agora travamos guerra em oração e no reino das ideias.

    Os céticos todavia frequentemente reclamam que até crianças foram mortas, tanto em tais conflitos com os cananeus como em intervenções divinas ao estilo diluviano ou na destruição de Sodoma e Gomorra. Mas tal reclamação geralmente ignora uma premissa tácita: Deus sabe quem vai ou não se arrepender de seu pecado e se Ele concluir que todos os filhos teriam sido corrompidos da mesma forma, então Ele está perfeitamente certo em instituir a punição que considerar necessária. Além disso, dada a evidência do pecado cananeu, não é difícil perceber que até mesmo muitas crianças já teriam aprendido os costumes cananeus. 

    Assim, se Deus quisesse livrar o mundo de sua maldade, então Ele não poderia fazê-los crescer querendo imitar, ou até mesmo vingar seus pais biológicos. E em todo caso, por que devemos levar a sério a lamúria dos céticos pelas crianças cananéias? A reclamação ateísta soa vazia, uma vez que eles geralmente estão também na vanguarda pela defesa do direito de uma mulher poder desmembrar, retalhar, ou dissolver até a morte um feto, a qualquer momento e por qualquer motivo.

Qual a validade moral dos críticos sobre a narrativa em questão?

    Aqui observamos mais um ponto interessante de argumento contra os críticos ao levantarem o "problema cananeu". Ainda que fosse um verdadeiro massacre genocida e já demonstramos que não o foi, de onde eles obtém que seria moralmente errado as ações israelitas contra os cananeus? Justificariam sua crítica em que? Sob que critérios poderiam moralmente condenar as ações do antigo Israel já que ao mesmo tempo consideram heroicas as narrativas da Ilíada e Odisseia que assim como no Antigo Testamento, também relatam histórias dos grandes heróis como Alexandre na antiguidade com contínuas exposições de carnificina total, tal qual na modernidade como na Segunda Guerra Mundial?

    No ateísmo, nosso sentimento moral é derivado de impulsos evolutivos que se resumem a sobrevivência e adaptação. Para sobrevivermos melhor, acabamos tendo propriedades neuroquímicas no cérebro que projetam preferências sentimentais definidas sociobiologicamente e que por sua vez, nos fizeram ter aversão sentimental ao assassinato e ao assassino. E a partir daí os seres humanos consideraram matar, algo imoral. Contudo, isso por si só não torna nem prova objetivamente que assassinato seja um ato imoral ou que o ato em si de planejar genocídios seja diferente de planejar ajudar os pobres famintos. Tais atos tornam-se tão corretos quanto qualquer variedade de impulsos evolutivos que se resumem a sobrevivência e adaptação do mais forte e que podem variar de acordo com o lugar e o tempo, tendo ambos total e mesma validade no contexto evolutivo. Bastaria um punhado de propriedades neuroquímicas no cérebro projetando preferências sentimentais que considerem assassinato e genocídio como bom, e "vualà", é isso que sobra ao ateísmo. Uma moralidade que se resume a impulsos irracionais subjetivos que variam ao gosto do freguês onde cada um define o que considerar imoral ou não.

    Então, a realidade dos fatos é que, sem uma base moral objetiva, não podem “discernir” que o trato divino contra os cananeus foi errado, e dentro de sua própria cosmovisão materialista de evolução, o suposto genocídio torna-se completamente tolerável. Afinal, não é isso que a evolução vem fazendo há milhões de anos?

A moralidade Divina

    Uma vez que não haveriam valores e deveres morais objetivos segundo os críticos ateus, então não se pode verdadeiramente dizer que "genocídio" ou coisa alguma é “moral” ou “boa”, senão em sentido subjetivo. Logo, não há necessidade em discutir se Deus fez algo moralmente errado ao comandar o suposto "extermínio dos cananeus". A crítica quando usada para questionar a moralidade divina, pressupõe equivocadamente como mencionado, que Deus estaria sujeito ao mesmo plano de ação dos humanos, algo que seria como querer que um pai fosse sujeito as mesmas restrições que os outros estão em relação ao seu próprio filho, como ao ato de disciplinar fisicamente quando necessário. Tal raciocínio ignora que a moralidade é dada para o trato dos homens uns com os outros que são todos imperfeitos e limitados em todos os aspectos. Obviamente não devemos tentar estabelecer como é que um Deus perfeito, ilimitado, único e superior a tudo que existe deve aplicar a Sua justiça, pois é evidente que ele não tem obrigação alguma em se submeter a regras estabelecidas a nós.

    Para além disto, o mesmo padrão de genocídio que os críticos usam ao se referir ao relato bíblico também pode ser usado para julgar a Iliada e Odisséia, as crônicas de Alexandre, dentre outros registros sobre conquistas e vitórias não só dos israelitas, mas também da própria vitória dos Aliados contra nazistas, italianos e japoneses ou de qualquer cultura e sociedade ao longo de milhares de anos. O que difere uma coisa de outra? Simples - as motivações, finalidade e o próprio contexto dos conquistados e seus conquistadores que por si só já descartam o rótulo de genocídio para se referir ao trato com os cananeus. Na verdade, basta escrever uma história das atrocidades de Hitler, Stálin ou Saddam Hussein e inserir Deus como comandante e responsável em os derrotar e novamente, "vualà", as críticas desaparecem e tais ações em aniquilar tropas nazistas e ditatoriais destes vilões belicosos sejam quais forem, seriam tidas não só como aceitáveis como também moralmente necessárias. E isso não é diferente quando nos deparamos com todo o contexto que a narrativa bíblica nos traz sobre os cananeus.

Considere o contexto

  • Os cananeus foram os primeiros a promover ataques contra os judeus de forma sistemática e repetida em meio à fraqueza dos israelitas. (Ex.17; Nm. 14:45; Dt 23:3-4). Levando em conta que exércitos antigos neste território não faziam prisioneiros, não haveria qualquer clemência para o povo judeu.
  • Antes de entrar em guerra contra uma nação, Israel costumava oferecer um tratado de paz (Dt 20:10). Algo que foi previamente rejeitado pelos amorreus, uma das nações cananitas.(Dt 2:26-30).
  • A coexistência pacífica entre os israelitas e os cananeus era impossível (Nm 33:55).
  • A execução em massa dos cananeus era um plano de contingência no caso deles escolherem ficar e lutar (Dt 20) dentro das fronteiras de Israel (Nm 33:22).
  • O foco dos ataques aos cananeus era destruir a sua vida religiosa e suas fortalezas militares, para minar de vez suas práticas e condutas grosseiramente imorais misturadas com a adoração prestada a várias divindades aberrantes como Moloque, ao qual era promovido o sacrifício de crianças(Dt12:2-3).
  • O comando de “destruir completamente” incluindo mulheres, idosos e crianças trata-se de uma linguagem hiperbólica para descrever de forma estereotipada a destruição de toda a vida humana nos locais conquistados, presumivelmente compostos inteiramente de combatentes. Algo que era consistente com a antiga retórica de guerra do Oriente Próximo. Dito de outra forma, esta retórica de guerra foi usada para descrever a destruição da nação, ao invés de cada indivíduo.
  • Aqueles que estavam dispostos a abandonar a ostensividade belicosa ou se rendessem como toda a família de Raabe, eram poupados de julgamento (Josué 2:13).
  • Estes mesmos cananeus foram autorizados a viver em estados vizinhos pois permitir aos canaanitas a coexistência com Israel no mesmo território, levaria a nação israelita ao caos. (Êxodo 23: 20-33). Aliás, os estrangeiros sempre tiveram a liberdade de se converter à fé dos israelitas.
  • A destruição dos cananeus não era um julgamento racial. Deus declarou explicitamente que essas pessoas estavam a ser executadas por causa de suas terríveis e sádicas ações (Levítico. 18:20-30). Caso o povo judeu praticasse as mesmas ações, a promessa de punição seria igual (Levítico 18:29).
  • Os cananeus, nunca foram extintos, foram sendo gradualmente absorvidos pela civilização israelita, ao passo que outros foram confinados às regiões costeiras, naquilo que veio a tornar-se a Fenícia.

Genocídio?

    Para encontrar traços 'genocidas' nas passagens que tratam da ocupação da Terra Prometida ou nas descrições da conquista em Josué e Juízes, dependemos entre outras coisas, da própria definição do termo 'genocida' que, segundo a qual, "genocídio" é uma tentativa de aniquilação violenta completa de todos os membros de um grupo religioso ou étnico indefeso e totalmente iniciada pelos perpetradores de uma maneira sistemática premeditada contra cada indivíduo do grupo adversário independentemente de suas atitudes pessoais. Então, diante da definição do que se pode considerar como genocídio, a narrativa encontrada no Antigo Testamento está longe de ser realmente considerada como um massacre indiscriminado ou uma limpeza étnica envolvendo as conquistas israelitas sobre os cananeus.

    Um genocídio é a tentativa deliberada, sistemática, premeditada e consciente de atos que causem a aniquilação violenta e completa de membros de um grupo religioso ou étnico indefeso, independentemente de suas atitudes pessoais. Tal termo não existia antes de 1944; ele foi criado como um conceito específico para designar crimes que têm como objetivo a eliminação da existência física de grupos nacionais, étnicos, raciais, e/ou religiosos. Em 1944, Raphael Lemkin (1900-1959), um advogado judeu polonês, ao tentar encontrar palavras para descrever as políticas nazistas de assassinato sistemático, incluindo a destruição dos judeus europeus, cunhou a palavra "genocídio" combinando a palavra grega geno-, que significa raça ou tribo, com a palavra latina -cídio, que significa matar. Com este termo, Lemkin definiu o genocídio como "um plano coordenado, com ações de vários tipos, que objetiva à destruição dos alicerces fundamentais da vida de grupos nacionais com o objetivo de aniquilá-los". Evidentemente que este não é o contexto apresentado sobre os cananeus.

    Há argumentos, evidências e justificativas para defender a justiça do evento, não existindo qualquer incompatibilidade entre o fato de Deus ser todo amoroso e bom,  com sua ordem para matar os cananeus. O massacre dos cananeus não foi um genocídio. A ordem divina foi para expeli-los da terra, eles estavam sendo removidos e, portanto, destruídos enquanto nações-estados. Se tivessem simplesmente batido em retirada diante do exército israelita, ninguém teria sido morto. Deveras, muitos dos que fugiram nunca foram perseguidos ou exterminados.

    É no entanto claro que as ações letais que são prescritas em Deuteronômio e descritas em Josué, estão relacionadas principalmente ao conceito de banimento ou expulsão. Foi uma pena capital para um povo tão perverso que, após 400 anos de espera, Deus, enfim, decidiu que estavam prontos para receber a justiça e pouco importa se aceitamos ou não a maneira como tal justiça foi aplicada.

About the Author

Bacharelando em Teologia, Historiador (CRP: 0000545/MG) Licenciado e Pós-graduado. Cristão de tradição batista e Acadêmico em Apologética Cristã.

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